Vítor Aguiar e Silva, Professor Catedrático Aposentado do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, foi galardoado com o Prémio Camões 2020, o mais importante prémio literário de língua portuguesa. O júri destacou a importância transversal do seu ensaísmo relativamente às questões da política da língua portuguesa e ao cânone das literaturas de língua portuguesa.
O seu percurso fulgurante de ensaísta e teórico tem um marco no ano de 1962 com a publicação do livro Para uma Interpretação do Classicismo. Abre-se aqui um caminho que vai ser desenvolvido na obra de referência Maneirismo e Barroco na Poesia Lírica Portuguesa (1971), onde propõe conceitos periodológicos que contribuem fortemente para a redefinição da História Literária em Portugal.
Na sequência deste estudo releve-se igualmente o importante contributo dos seus inigualáveis trabalhos sobre Camões, concretamente nos livros Camões: Labirintos e Fascínios (1994, Prémio de Ensaio da Associação Portuguesa de Críticos Literários e Grande Prémio de Ensaio da Associação Portuguesa de Escritores), A Lira Dourada e a Tuba Canora (2008; Prémio D. Dinis da Casa de Mateus) e Jorge de Sena e Camões. Trinta Anos de Amor e Melancolia (2009). Coordenou ainda o Dicionário de Luís de Camões, obra de referência publicada em 2011.
A obra de Vítor Aguiar e Silva marcou de modo decisivo o campo da teoria da literatura, reconfigurando a fisionomia dos estudos literários nos países de língua portuguesa. A sua Teoria da Literatura constitui-se como exemplo emblemático de um pensamento sistematizador que continuamente se revisita. Esta obra exerceu uma larga influência em universidades portuguesas e brasileiras e também em universidades de Espanha, da América hispânica e dos Estados Unidos da América. Em 1977 publicou Competência linguística e competência literária. Sobre a possibilidade de uma poética gerativa, livro que três anos depois foi traduzido para espanhol e para japonês (Osaka,1980).
Intersectando ainda a sua reflexão teórica sobre o fenómeno literário, surge também uma ampla indagação em torno do ensino da literatura e do ensino do Português. Assinale-se neste domínio a publicação do livro As humanidades, os estudos culturais, o ensino da literatura e a política da língua portuguesa, publicado em 2010.
Em 2020 publicou o livro Colheita de Inverno, uma obra admirável que reúne ensaios sobre os seus grandes temas: a teoria literária, a crítica literária e os estudos camonianos. A par da sua obra ensaística, a sua docência deixou uma marca profunda em diversas gerações de estudantes. Desempenhou funções no âmbito das políticas para a promoção da língua e cultura portuguesa. Além de ter participado na formação do Instituto Camões, coordenou a Comissão Nacional de Língua Portuguesa (CNALP), tendo sido ainda membro do Conselho Nacional de Cultura.
Foi distinguido com o Prémio Vergílio Ferreira, 2002 (Universidade de Évora), com o Prémio Vida Literária (Associação Portuguesa de Escritores, 2007) e com o Prémio Vasco Graça Moura - Cidadania Cultural (2018). Em 5 de Outubro de 2004, foi agraciado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública.
Na Universidade do Minho, para onde se transferiu da Universidade de Coimbra, em 1989, foi Professor Catedrático do Instituto de Letras e Ciências Humanas, fundou e dirigiu o Centro de Estudos Humanísticos e a revista Diacrítica. Desempenhou também as funções de vice-reitor da Universidade, de junho de 1990 a julho de 2002, altura em que se aposentou.
A Universidade do Minho sente-se profundamente honrada com a atribuição do Prémio Camões a um dos seus mais insignes professores e testemunha ao Professor Aguiar e Silva o seu grato reconhecimento pelos valiosos contributos que deu à construção da Universidade.