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Pulseira inovadora leva mosquitos a pensarem que somos plantas
segunda-feira, 08/08/2022
Braga
Filipa
Fernandes, formada pela Escola de Engenharia da Universidade do Minho, criou
uma pulseira odorífera que leva os mosquitos a julgar que os humanos são
plantas. A tecnologia portuguesa previne picadas associadas a doenças como
malária, dengue ou zika e pode ter impacto a nível sanitário, social, económico
e turístico, sobretudo em países tropicais, continua a diretora de inovação da start-up
Ooze Nanotech. O dispositivo está a ser alvo de patente e foi agora
testado com 98% de sucesso em 300 pessoas no Brasil, prevendo-se para breve
novo teste no Burkina Faso, com aval da Organização Mundial de Saúde, explica.
“Só
sentimos um leve aroma ao colocar a pulseira, ao contrário dos mosquitos, que
até se podem aproximar e pousar em nós, mas não vão picar, pois desta vez
julgam estar sobre uma planta e irão procurar alimento [sangue] noutros
animais”, frisa Filipa Fernandes. Cada pulseira tem um raio de ação de 60
centímetros e dura 30 dias. “É algo pioneiro,
pois não danifica o ecossistema, não é um repelente e nem esse dura tanto
tempo”, acrescenta a responsável, que dedicou cinco anos ao projeto.
A
pulseira é feita de silicone medicinal e, no interior, de cera com compostos e
derivados de plantas, que perante o calor corporal liberta de forma controlada
um odor que confunde os insetos. As plantas aí utilizadas são citronela, neem e
lavanda, “a combinação que se revelou mais eficaz” para confundir as espécies de
mosquitos Anopheles e Aedes, transmissoras de doenças como
malária, zika, dengue, febre amarela e chikungunha. Os testes laboratoriais
tiveram apoio de Artur Ribeiro, do Centro de Engenharia Biológica (CEB) da
UMinho.
Já
os ensaios em contexto real arrancaram no Ceará, nordeste do Brasil, com 300
membros do Movimento Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim e da empresa Larosy
Lingerie, tendo o apoio da distribuidora Global Trading Company. “Foi um
sucesso e com inúmeros relatos de felicidade, um jovem deu a sua pulseira à avó
fragilizada para a proteger. Não é medicamento, mas claramente previne o
contacto com mosquitos e doenças associadas e é uma esperança para quem vive
nesses ambientes”, refere Filipa Fernandes. Prevê-se novo ensaio na Unidade de
Investigação Clínica de Nanoro, no Burkina Faso, com supervisão do Vector
Control Advisory Group da Organização Mundial de Saúde, e que aguarda
financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates.
A
pulseira é produzida em Vila Verde, distrito de Braga e, começou a ser vendida
este mês, em seis cores, em style-out.com e em farmácias do sul do país, mas o
foco principal está nas regiões tropicais e subtropicais. “Podemos ajudar a
diminuir a mortalidade destas doenças e quiçá a erradicar a propagação, além de
permitir poupanças aos sistemas nacionais de saúde”, admite Filipa Fernandes,
que procura levar a inovação ao maior número possível de pessoas. Citando
estudos, nota que os mosquitos “custam” 410 milhões de euros por ano ao Governo
do Brasil e a cada 30 segundos morre uma criança africana por malária. “Mortes
são casos extremos, mas importa contar ainda todos os doentes e os milhões de
pessoas picadas.”
Filipa
Fernandes tem reforçado contactos com entidades públicas, privadas e embaixadas
para mostrar a diferenciação e a importância da tecnologia da pulseira, chamada
X-OCR. Outro desafio é o dispositivo poder camuflar também os humanos perante
as espécies Culex, transmissoras da febre do Nilo, entre outras doenças.
“Cada espécie de mosquito tem repulsa por plantas específicas, como quando
gostamos ou não de um perfume, e estamos a apurar a equação certa neste caso”,
descreve.
Nota
biográfica
Filipa Fernandes nasceu há 37 anos em Guimarães e vive em Braga.
Fez o mestrado integrado em Engenharia de Materiais na UMinho, na qual
investigou desde 2010 em projetos do Centro de
Física, do Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil, do CEB e do Centro de
Território, Ambiente e Construção. É diretora de inovação da Ooze
Nanotech (Vila Verde) e investiga na Ribeiro & Matos
(Guimarães). Estuda a funcionalização de superfícies, como têxteis, pavimentos,
vidros e cerâmicas. Tem duas patentes em aprovação e trabalhos pioneiros sobre roupas
que atenuam efeitos da menopausa, áreas autolimpantes e rodovias que mudam de
cor com a temperatura. Pela UMinho, foi ainda capitã da equipa de futsal, que
se sagrou campeã nacional e vice-campeã europeia universitária.