A criação da Universidade do Minho materializou uma aspiração antiga de uma região, integrou uma das mais ambiciosas transformações do sistema de ensino superior português, abriu caminho à afirmação de um importante projeto institucional e veio a revelar-se essencial na transformação de Portugal num país mais justo, mais democrático e mais desenvolvido.
No momento em que a Universidade do Minho se aproxima dos seus 50 anos, contados a partir da tomada de posse da sua Comissão Instaladora, a 17 de fevereiro de 1974, interrogar a história da instituição, a sua atualidade e o seu futuro, no quadro de interações com um contexto em permanente transformação, é um empreendimento útil e estimulante.
A visão compreensiva do passado é um fator poderoso de conhecimento do presente e a projeção e o planeamento do tempo que há de vir ganham em estar ancorados na reflexão sobre a contemporaneidade. Esta é a ideia que estrutura as comemorações dos 50 anos da Universidade do Minho.
A construção histórica de uma instituição universitária é um processo complexo, que é efeito de aspirações coletivas e vontades individuais, que resulta das circunstâncias que as rodeiam e de que fazem parte os impactos da sua ação nos campos social, económico e político.
A Universidade do Minho encontra-se, hoje, num patamar de maturidade, percorridos os tempos da fundação e da afirmação e da consolidação institucional. Porém, a Universidade confronta-se na atualidade com os grandes desafios do século XXI, o que requer um olhar prospetivo ousado, que as lições do passado favorecem, mas que tem de incorporar respostas plausíveis às mudanças profundas que caracterizam as sociedades contemporâneas.
Até 1972 existiam em Portugal apenas 4 universidades públicas – Porto, Coimbra, Lisboa e Técnica. Em 1973 (Decreto-Lei n.º 402/73 de 11 de agosto), a criação de mais 4 instituições universitárias (Universidade do Minho, Universidade de Aveiro, Universidade Nova e Instituto Universitário de Évora) representou uma profunda mudança do panorama universitário em Portugal.
A implantação da democracia, em 1974, veio dar um novo sentido ao movimento de reforma lançado pelo Ministro Veiga Simão, reforçando e ressignificando a expansão e diversificação do Ensino Superior.
Comemorar os 50 anos da Universidade do Minho requer, pois, que se celebre também a democracia portuguesa e aquelas que foram conquistas suas: a democratização do acesso, a alteração do estatuto dos docentes, o reforço da autonomia institucional, as mudanças no modelo de financiamento, a diversificação e especialização das instituições, a assunção da investigação como dimensão central da atividade das universidades, a internacionalização. Em consequência, as universidades constituíram-se em poderosos fatores de transformação e modernização do nosso País. O número de alunos do ensino superior evoluiu de 40.000, em 1972, para 400.000, em 2020; as universidades diplomaram milhares de técnicos superiores (médicos, engenheiros, juristas, economista, professores, ...) que vieram a alterar profundamente o panorama social, económico, cultural e institucional de Portugal. Paralelamente foi desenvolvido um sistema científico e tecnológico de cada vez maior relevância, capaz de produzir mais e melhor ciência.
Nestas circunstâncias, o Programa de Comemorações dos 50 Anos da Universidade do Minho pretende celebrar a Instituição e pensar o seu futuro, mas também promover a reflexão sobre o ensino superior e os seus desenvolvimentos, articulando-se com iniciativas semelhantes desenvolvidas pelas "universidades novas": ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, criado em 1972, Universidade de Aveiro, Universidade de Évora e Universidade Nova de Lisboa, que agora celebram o seu cinquentenário.
Rui Vieira de Castro
Reitor da Universidade do Minho