A investigadora Sofia Matos, da Escola
de Ciências da Universidade do Minho (ECUM), foi distinguida pela Academia
Americana de Optometria com o prestigiado Garland W. Clay Award, pelo seu contributo científico na área
da visão. O galardão foi atribuído no passado dia 10 de outubro, durante o
encontro anual Academy 2025 Boston, nos Estados Unidos.
Este ano, o prémio distinguiu o artigo “Efeito
de longo prazo das lentes de contacto de foco duplo na progressão da miopia em
crianças: um ensaio clínico multicêntrico de 6 anos”, publicado na revista Optometry
and Vision Science e considerado o mais impactante do ano na área
da ciência da visão. O trabalho resultou de um ensaio clínico internacional que
envolveu investigadores de Portugal, Estados Unidos, Reino Unido, Singapura, Canadá
e Austrália, e que já tinha sido distinguido com este galardão em 2021, através
do artigo “Um ensaio clínico
randomizado de três anos das lentes MiSight para o controlo da miopia”.
“É uma honra receber o Garland W. Clay Award 2025 da American Academy of
Optometry pela segunda vez, distinção que reconhece o nosso artigo como uma das
contribuições mais relevantes publicadas na revista Optometry and Vision Science nos últimos cinco
anos”, refere a investigadora.
A pesquisa analisou o impacto das lentes
de contacto gelatinosas de foco duplo (MiSight 1 Day) na progressão da miopia
em crianças ao longo de seis anos. Os resultados demonstraram uma desaceleração
significativa e sustentada da progressão da miopia, bem como do crescimento
axial do globo ocular. As crianças que mudaram de lentes convencionais para
lentes de tratamento após três anos também registaram uma diminuição de 71% no
crescimento ocular. O efeito manteve-se ao longo dos seis anos e foi bem
tolerado em 90% dos casos. Estas lentes obtiveram a aprovação da FDA
como o primeiro produto comprovado clinicamente para retardar a progressão
da miopia em crianças de 8 a 12 anos aquando do início do tratamento. “O ensaio
clínico em que este trabalho se baseia constitui um marco no avanço do controlo
da progressão da miopia em crianças, evidenciando o impacto que a investigação
colaborativa pode ter na saúde visual a nível global”, acrescenta Sofia Matos,
que destaca a importância da investigação desenvolvida no CEORLab do
Departamento de Física da Escola de Ciências da Universidade do Minho, em
conjunto com outros três centros de investigação de renome internacional.
O estudo foi liderado por Paul
Chamberlain, diretor de investigação da CooperVision e, além da portuguesa
Sofia Matos, envolveu os cientistas Arthur Bradley, Baskar Arumugam, David
Hammond, John McNally, Nicola Logan, Debora Jones, Cheryl Ngo, Chris Hunt e
Graeme Young.
Atribuído pela primeira vez em 1978, o
prémio Garland W. Clay distingue os melhores artigos publicados no American Journal of Optometry and
Physiological Optics (actualmente Optometry and Vision Science),
tendo como critérios a originalidade, a relevância clínica, a integridade da
investigação e a qualidade da apresentação. Atualmente, é considerado uma das
mais prestigiadas distinções internacionais na área da optometria e da ciência
da visão.
Da
investigação à prática clínica Sofia Cláudia Peixoto de Matos é
licenciada em Optometria e Ciências da Visão pela Universidade do Minho, onde
concluiu também o Mestrado em Optometria Avançada em 2011. É coautora de
diversos artigos científicos e capítulos de livros, tendo colaborado em múltiplos
projetos nacionais e internacionais, públicos e privados. Desde 2008, exerce
prática clínica em optometria no setor privado, acumulando funções clínicas e
de gestão, enquanto integra a equipa de investigação do CEORLab – Laboratório de Investigação em
Optometria Clínica e Experimental da Universidade do Minho. É
ainda docente convidada no Departamento de Física da mesma universidade desde
2017. Os seus principais interesses de investigação centram-se nas lentes de
contacto e no controlo da progressão da miopia.