Exposições "This Will Change Your Life Forever", de Klaus Pichler, "Amalhtée", de Georges Pacheco, "The Hub", de Roger Guaus, e "Not In Your Face", de Susan Barnett, entre 20 de setembro e 5 de novembro, no Convento de S. Francisco, em Real, Braga. Iniciativa no âmbito do festival internacional XXVII Encontros da Imagem e com apoio da Unidade de Arqueologia da UMinho. Entrada livre de terça-feira a domingo, das 10h00-12h30 e 14h30-17h30.
A organização dos Encontros reconheceu o poder da história e do património e provovou a contaminação de ambos os territórios, ao enriquecer o presente e a inspirar o futuro. A colaboração ressaltou num compromisso mútuo em contar algumas histórias visuais, em sintonia com o legado e as transformações vividas pelo convento. Coincidente de 23 a 25 de setembro, no mesmo local, com a
instalação
"Obra Aberta". Outros trabalhos dos Encontros da Imagem em espaços da UMinho são as exposições de
Christto & Andrew, Brian Griffin e Céline Gaille, no Museu Nogueira da Silva, e de
Sam Harris, na Reitoria.
The Hub, de Roger Guaus
Centro de interligação, no campo das redes de computadores, que implica colisão. Interpretação feita a partir das colisões de interesse que cobre temas de conexão, como a religião, a violência e a morte, incorporada num campo de tensão que não permite espaço para descanso, calma ou serenidade. O trabalho de Roger Guaus está sempre relacionado com a pesquisa pessoal, equilibrando sobretudo os níveis conceptual e poético ao mesmo tempo, lidando muitas vezes com a intimidade, a identidade ou as suas relações com os demais.
Neste campo ele apresentou obras como Diaris d’un fotògraf (2009-2010), onde ele tenta eliminar os parasitas que carrega no seu desempenho como fotógrafo; The believer (PES/01, Standard Illustrated Books, 2011), onde ele mostra a falta de compreensão da sua mãe sobre o seu profundo interesse em artes e fotografia; L’inassolible - The unreachable (Call'Isidro Edicions, 2012), um comentário sobre a relação que ele tinha com o pai e uma homenagem à sua pessoa; Persones que em recorden a mon pare 1948-2008 (2012), uma série de imagens que ele descarregou da internet de pessoas que lhe lembram o seu pai, e Diari íntim (2007-2047), um trabalho onde ele se obriga a enfrentar material íntimo e real como e documentos do banco e notariais (e não fotografias) The Hub (Ca l’Isidret Edicions, 2013) faz parte também do conjunto da sua obra. Entretanto, em 2012, criou Ca l’Isidret Edicions como os fotógrafos Juan Diego Valera e Aleix Plademunt para publicar os seus próprios trabalhos (
www.calisidretedicions.cat).
"Not in Your Face", de Susan Barnett
Na série “Not In Your Face” a t-shirt é bastante óbvia, mas estas fotografias não são sobre a t-shirt em si. Elas representam a identidade, a validação e a percepção. Cada uma destas pessoas revela uma parte de si mesma, expondo as suas esperanças, ideais, gostos, desagrado, pontos de vista políticos e mantras pessoais. Estes indivíduos usam um tipo de distintivo de honra ou troféu que diz: "Sim, eu pertenço a este grupo e não a outro."
Ao fotografar as pessoas de costas, este trabalho desafia a antiga tradição do retrato, que era feito de rosto, e analisa até que ponto o tipo de corpo, roupa e comportamento podem dizer-nos tanto quanto uma expressão facial.
Em agosto de 2014, o The New York Times apelidou as fotografias de "T-Shirt Time Capsules" com um artigo intitulado “Watching Your Back and What’s On It”. Esta tipologia com mais de 1000 imagens apresenta uma cápsula do tempo com mensagens que as pessoas estão dispostas a partilhar sem medo de represálias. Estes retratos ambientais servem para questionarmos nossos próprios instintos, bagagens e preconceitos que ocorrem naquele segundo de identificação.
Nestas fotografias testemunhamos uma crónica de subculturas globais e vernáculos que servem para ilustrar as correntes, questões e preocupações do século XXI. Estas são as histórias de pessoas que contam a sua própria história, revelando-nos quem são e quem eles querem que nós pensemos que são.
Quando George Harrison chegou a Nova Iorque para a visita histórica dos Beatles, trazia consigo uma Pentax Spotmatic ao descer as escadas do avião. Nessa altura eu tinha 15 anos, e, pouco depois, comprei o mesmo modelo da Pentax e comecei a fotografar a minha vida de todos os dias, tal como se me afigurava. Mais tarde tive a sorte de me ter sido oferecida uma Leicaflex SL2 com 40 anos, que tinha sido do meu pai, e que ainda hoje uso. Após um estágio nos Cloisters, o ramo Medieval do Metropolitan Museum of Art, tive a sorte de conseguir um lugar nas Perls Galleries em Madison Avenue, que se especializaram na School of Paris, the Fauves e tornaram Alexander Calder popular. Trabalhei lá durante doze anos, como Diretora Associada. Ainda hoje continuo a minha associação com Calder e the Perls.
Mesmo ao lado da Perls Galleries ficava a Light Gallery, uma das primeiras galerias a expor Fotografia Contemporânea. Foi aí que tive o primeiro contacto com os trabalhos de Steven Shore, Aaron Siskind e Lee Friedlander. O mundo da arte dos anos 70 em Nova Iorque, deu-me a oportunidade de explorar a arte de então, mas, devido à vizinhança com todos os Museus e galerias bem como leiloeiros, consegui fazer a minha auto formação em pensamento visual, enquanto lidava com o trabalho dos Mestres. Continuei a fotografar até que voltei a usar outra vez a minha câmara a tempo inteiro. Fiz exposições individuais no Griffin Museum of Photography, Center for Fine Art Photography, DeSantos Gallery e, em outubro, no Detroit Center for Contemporary Photography. “Not In Your Face” recebeu recentemente os prémios PhotoLucida Critical Mass Top 50 e PDN Annual 2013. As imagens encontram-se em Clampart, Nova Iorque.
"This will change your life forever", de Klaus Pichler
Alguma vez sentiu no fundo do seu coração uma sensação de contradição a algo - e justamente por isso começou a desenvolver interesse por esse algo? Foi exatamente o que me aconteceu quando involuntariamente tive contato com um tema conhecido como, “esoterismo”, “energias” ou, “nova era”. Alguém do meu circulo mais próximo começou a explorar este cenário após uma crise de vida - a sua visão do mundo tornou-se irracional, especulativa, parcialmente bizarra e até ligeiramente paranóica, ele gastou as suas economias em seminários estranhos, produtos e serviços, e desligou-se do mundo real.
O que restou, foi impotência e raiva - e um interesse estranho no que poderia ter sido a razão da mudança, de um ser racionalista para um ser que passou a acreditar em anjos e “energia subtil". Assim sendo, iniciei uma pesquisa de forma a descobrir tudo o que gira em torno do mundo do esoterismo, como funciona, e o que o torna tão atrativo. Descobri um amplo sistema de conteúdos difíceis de compreender dentro de um enorme espectro, todos apresentados com uma promessa de salvação, e uma estratégia de marketing com a pretensão de vender um imenso número de produtos e serviços.
O esoterismo em todas as suas formas oferece modelos simplificados e esclarecedores do mundo, utilizando, as 'energias' ou, 'forças superiores' como responsáveis por literalmente tudo, ignorando as leis básicas da medicina e da ciência. O grupo-alvo para os fornecedores de produtos esotéricos e prestadores de serviços é maioritariamente formado por pessoas que se encontram em situações difíceis de vida - com doenças, traumas, golpes do destino, problemas psíquicos e assim por diante. Na maioria dos casos a abertura de mente para esta forma de pensar deve-se a um determinado défice ou às promessas de salvação apresentadas pelos prestadores, que oferecem uma perspectiva de melhoria através do uso das suas ofertas.
Em última análise, e posto desta forma, é um jogo cínico de esperanças (irrealizáveis) e desejos, que termina com o facto de nada ter mudado em termos dos problemas originais, apenas acrescentada uma série de novos problemas (como dificuldades financeiras, problemas psicossociais, perda de realidade, afastamento social, apenas para nomear alguns). Nada neste projecto é inventado - não por mim, pelo menos. Eu deparei-me com todo o conteúdo deste projeto na minha pesquisa, exatamente desta forma. As fotos deste projeto enquadram-se em quatro categorias: fotos de produtos esotéricos (encomendados em lojas online), fotos de tópicos sobre energias, técnicas e conteúdos (visualizadas a partir dos resultados da minha pesquisa), fotos de serviços esotéricos reencenadas (encontrado em fóruns online) e, finalmente, provas fotográficas reencenadas "(também retirados de meios de comunicação).
Klaus Pichler nasceu em 1977, e vive e trabalha em Viena, na Áustria. Estudou e graduou-se em Arquitetura Paisagista, em 2005, e desde então tem vindo a trabalhar como fotógrafo freelance e artista. Klaus Pichler é representado pela Galeria Anzenberger, em Viena, na Áustria, e pela Galeria Rockelmann- &, em Berlim, na Alemanha.
"Amalthée", de Georges Pacheco
O título provém do nome da cabra que amamentou Zeus, segundo a mitologia grega. O trabalho consistiu em fotografar mães com distintas personalidades e diferentes corpos, aquando do momento da amamentação dos seus bebés, na atmosfera íntima do meu estúdio. Pretende-se prestar uma homenagem fotográfica a este ato universal que é a amamentação, adotando referências da pintura do Renascimento italiano e holandês. É igualmente feita referência à sensualidade que rege a maior parte das pinturas religiosas desde a Idade Média, muitas vezes próximas de temas profanos, através da introdução de poses sugestivas e do recurso ao nu.
Ao revisitar este ícone da virgem a amamentar, que foi tema central e recorrente da pintura dos séculos XV a XVII, a ponto de ter marcado o nosso inconsciente coletivo, procuro questionar os processos de representação e de incarnação do arquétipo, através de mães reais e da nossa atualidade, a quem pedi que se colocassem na situação de "fora de si próprias" enquanto viviam a plenitude desta ligação privilegiada e deste momento íntimo com o seu filho. Um dos objetivos deste trabalho é o de revelar a universalidade deste gesto, sugerindo um sentimento de intemporalidade: retirando qualquer vestígio de contemporaneidade, libertando cada uma das mães de tudo aquilo que levaria a identificar um tempo e um lugar; concentro-me na relação mãe/filho e na beleza e emoção que se liberta nesse momento de amamentação. Para tal, utilizo, de forma minimalista, simples véus e tecidos, de forma a evocar a ideia do intemporal e apagar as diferenças de identidade destas mulheres.
No interior do meu estúdio, como simples espetador desta cena simbiótica, eu observo, foco e extraio assim os momentos evasivos deste estado de graça, onde se revelam os contornos de uma postura "fora do tempo" em conjunto com uma sensação de um déjà-vu pictórico. Longe de pretender plagiar ou imitar esta ou aquela representação da virgem a amamentar, com a utilização de um modelo específico, tento antes compreender como se processam determinados mecanismos introjetivos de identificação, como é o caso da assimilação de imagens tão simples e tão fortes como as das Nossas Senhoras da iconografia cristã. Outro objetivo deste trabalho é questionar como a fotografia, na sua condição de ferramenta de transcrição da realidade, poderia acrescentar algo mais além do que foi feito na pintura, em relação à construção deste tipo de imagens, e simultaneamente focar a sua capacidade de revelar pormenores que os pintores da Renascença não quiseram ou não puderam representar.
Georges Pacheco vive entre Le Mans e Arles. Diplomado pela École Nationale Supérieure de la Photographie d’Arles em 2012, bem como em Psicologia da Arte pela Université Paris X, dedica-se há vários anos a examinar em profundidade a condição humana. Adaptando as suas abordagens e dispositivos às diferentes problemáticas que trata, procura compreender os processos de representação através da fotografia de retrato e de lançar um olhar comprometido sobre o género humano.
A sua implicação e a proximidade que cria com as pessoas que fotografa ou a quem pede que façam um autorretrato, são também necessidades suas de pôr à prova e questionar o outro. Georges Pacheco expôs, entre outros, na Galerie du Château-d’Eau em Toulouse e no Centro Português de Fotografia em 2007, no Festival Mai-Photographies de Quimper em 2008, no Centre d’Art Contemporain Stimultania de Strasbourg em 2009 e na Galerie IMMIX em Paris em 2011. O seu trabalho foi igualmente projetado no âmbito do Festival Voies Off à Arles em 2008, no Festival ImageSingulière em Sète em 2009, e nas Journées Photographiques de Bienne em 2012, na qualidade de finalista do Rado Star Prize.
A sua série Amalthée fez parte da seleção internacional do Festival Voies Off em Arles em 2012. Uma das imagens da série está exposta na National Portrait Gallery de Londres como finalista do Taylor Wessing Photographic Portrait Prize e recebeu, em 2012, o 2º Prémio de Photographies de l’Année, na categoria de Retrato. Foi atribuído ao seu trabalho o Prémio Voies Off em Arles em 2007 e fez parte dos 16 finalistas do Prémio de Fotografia da Académie des Beaux Arts em 2009.
+Info: facebook.com/events/557970394395237,
facebook.com/eimagem,
encontrosdaimagem.com,
www.uaum.uminho.pt